Porque acredito que o Rei Arthur existiu.
A figura do Rei
Arthur moldou o imaginário medieval, criando raízes profundas que permanecem
até os dias de hoje. Um rei que uniu a Britânia por volta dos séculos V e VI,
enfrentou os Saxões e reuniu grandes homens ao redor de sua Távola Redonda.
Muitos especulam
tanto sobre sua existência quanto sobre os elementos fantásticos que foram
acrescentados às suas lendas ao longo do tempo. Eu gostaria de compartilhar um
pouco do que sei, acredito e gosto sobre tudo isso. O Ciclo Arturiano é
fascinante e toca a alma. Quem lê sobre ele se imagina entre os cavaleiros da
Távola Redonda.
Os contos de cunho
mais fantasioso e mitológico sobre o Rei Arthur já permeavam as narrativas das
ilhas Britânicas antes mesmo do século XII. Godofredo de Monmouth (Geoffrey de Monmouth), um clérigo
galês, deu origem à tradição literária do Rei Arthur. Considero-o a principal
base para o que se desenvolveu como Ciclo Arturiano ou, como também gosto de
chamar, o Universo do Rei Arthur.
Na história
romanceada, Arthur teria nascido no castelo de Tintagel, na Cornualha. Ele
seria filho de "dois mundos", com sua mãe, Igraine, sendo bretã e seu
pai, Uther Pendragon, romano. Arthur teria Morgana e Morgause como irmãs.
Duas batalhas
registradas na história são atribuídas ao Rei Arthur, sendo uma delas a que
resultou em sua morte. Essas batalhas foram a do monte Badon e a de Camlann,
ambas ocorridas entre os séculos V e VI.
Um rei da Britânia
chamado Vortigerno convidou os futuros inimigos da Britânia, os saxões, por
volta da metade do século V, para auxiliá-lo nas batalhas e consolidar ainda
mais seu poder como rei. Contudo, as tensões entre os dois povos atingiram seu
ápice, e as guerras contra os antigos aliados tiveram início.
Após a morte de
Vortigerno, um herdeiro de sangue romano ascendeu ao trono da Britânia. Esse
líder era Ambrósio Aurélio, filho de um rei anterior chamado Constantino II e
irmão de Constante e Uther Pendragon.
Criado de forma
humilde e modesta, Arthur cresceu sem os privilégios de um príncipe. Muitos
aspectos de sua origem derivam de lendas ou acréscimos posteriores. Sua lenda
mais famosa, símbolo de sua história, é a retirada da espada sagrada Excalibur
da pedra, um evento que simboliza sua legitimidade como rei diante de todos.
Arthur teria sido um exímio líder militar e estrategista, o que lhe permitiu destacar-se, inclusive no combate contra os pictos e mais invasores saxões.
Na tradição
romântica, o universo das lendas do Rei Arthur passou a contar com
"spin-offs", por assim dizer. Seus cavaleiros começaram a
protagonizar aventuras próprias.
O conto de Tristão e
Isolda é um exemplo. Ele narra uma história romântica entre Tristão, um
cavaleiro da Távola Redonda, e Isolda, uma princesa da Irlanda e descendente
das fadas do norte.
Os contos que formam
o Ciclo Arturiano basearam-se amplamente na chamada "Matéria da
Bretanha", um conjunto de lendas celtas provenientes da Britânia. O Ciclo
Arturiano deriva, em grande parte, dessa tradição. Esse conceito também está
presente nas tradições francesas e romanas, com algumas convergências entre
elas.
Entre os contos que
compõem o Ciclo Arturiano, destaca-se a busca pelo Santo Graal, também
conhecida como a "Demanda do Santo Graal".
O número de cavaleiros que integravam a Távola Redonda varia nas lendas, sendo descrito de 12 a 150. Pessoalmente, acredito que doze cavaleiros seriam mais viáveis. Entre os acréscimos posteriores à lenda dos Cavaleiros da Távola Redonda está o "assento perigoso", o qual se localizava diretamente em frente ao lugar do Rei Arthur, posicionando o cavaleiro sentado ali diante de seu rei.
Um aspecto
transcendente no Ciclo Arturiano é a sagrada ilha de Avalon, onde Arthur teria
passado a residir após sua morte. Avalon é frequentemente associada à cidade de
Glastonbury, localizada no condado de Somerset, na Inglaterra. Um local
específico que chama bastante a atenção de fãs e entusiastas das lendas
arturianas é a Glastonbury Tor, uma grande elevação com mais de 150 metros de
altura, onde há uma ruína no centro que lembra a base de uma torre.
Avalon é conhecida nas
lendas por emergir em meio às brumas ou à névoa como uma ilha. Curiosamente,
quando Glastonbury é coberta pela névoa, a Glastonbury Tor surge acima dela,
parecendo uma ilha flutuante.
Segundo as lendas,
Merlin, o grande mago, residiria em uma torre em Avalon, onde permaneceria
testemunhando a humanidade até seu fim. Nas tradições posteriores, Merlin é
descrito como fruto da união entre um íncubo (um demônio que se alimenta da
energia vital de mulheres em seus sonhos) e uma mulher humana. Reconhecido como
um dos maiores magos da história, Merlin é lembrado principalmente como um
"King Maker" ou "fazedor de reis", semelhante ao profeta
Samuel, que ungiu o Rei Davi.
Na sociedade celta,
os druidas eram responsáveis por diversas questões sociais, culturais,
religiosas e científicas. Um deles, em particular, teria guiado Arthur ao
reinado, interpretando sinais nas estrelas e atuando como arauto da união entre
os povos bretões e romanos.
A Glastonbury Tor,
com sua elevação de 158 metros, coberta por névoa, poderia ser vista como uma
manifestação física da ilha de Avalon. A construção no topo da colina, na visão
das pessoas da época, talvez fosse interpretada como um portal para a torre de
Avalon.
Merlin também é uma
figura central nessa simbiose cultural, sendo conselheiro do reino e tendo
atuado na corte de Uther Pendragon, pai de Arthur. Ele teria orquestrado o
encontro entre Igraine e Uther, já prevendo o nascimento daquele que salvaria a
Grã-Bretanha em tempos de crise.
O próprio nascimento de Merlin teria sido atípico nas lendas, pois ele seria o fruto da união de um íncubo e uma humana. Seu nome, "Merlinus", é uma latinização de "Myrddin", um bardo da mitologia galesa conhecido por seus dons proféticos. Myrddin era associado a divindades bretãs e possivelmente venerado em Stonehenge, simbolizando o sol ou o céu.
Por volta do século V
d.C, a província romana da Britânia enfrentava desafios em lidar com os povos
celtas do norte, além da Muralha de Adriano. Os romanos não conseguiram mapear
com precisão o norte da ilha Britânica. Quando o império romano começou a
declinar, deixou os "reis provinciais" governando as províncias com
certa autonomia.
Acredito que toda
lenda tenha um fundo de verdade. Assim, penso que, em algum momento daquele
período, tenha existido um rei ou um general elevado à realeza pelo povo, que
conquistou glória e simpatia por sua habilidade como cavaleiro.
Uma das teorias mais
intrigantes é a de que um general romano chamado Lucius Artorius Castus, que
viveu entre os séculos II e III, tenha sido a inspiração para a lenda do Rei
Arthur. Esse Artorius, de origem italiana, serviu na província romana da
Britânia. Contudo, a atuação de Artorius é cercada de incertezas, e sua vida
antecede a figura lendária de Arthur Pendragon em cerca de três séculos.
Uma das lendas mais
famosas do Santo Graal diz que José de Arimatéia, o homem rico que cedeu seu
túmulo familiar para o sepultamento de Jesus, levou o Cálice Sagrado para a
Britânia. Sabemos que, após o século I d.C, a dispersão do cristianismo foi um
fenômeno avassalador, praticamente um milagre póstumo. Cristãos e judeus
espalharam-se por todo o império romano, incluindo as ilhas Britânicas. O
sincretismo religioso entre bretões e romanos, favorecido pela lei que
autorizava o cristianismo no império, ajudou a formar a base dos contos
arturianos.
Embora não
relacionados diretamente a Artorius Castus, alguns elementos ligados a Arthur Pendragon
podem ser interpretados como factuais, baseando-se em como a população daquela
época via e narrava os eventos. Um exemplo é a elevação de 158 metros da
Glastonbury Tor. Quando coberta por nevoeiro, seu cume parece uma ilha
flutuante vista ao longe, uma visão misteriosa e até mesmo sagrada para o povo
da época. Talvez fosse associada a dizeres como "Avalon está aqui" ou
"A ilha sagrada, o portal da Dama do Lago".
Quanto às lendas das espadas sagradas, estas dependem muito de seus portadores. A força de uma lenda está tanto na arma quanto em quem a empunha. Podemos mencionar a espada Ascalon, de São Jorge (Georgius); Balmung, de Siegfried; e Gram, de Sigurd, como exemplos que refletem essa simbiose entre heróis e suas armas.
Quando se fala em
espada sagrada, dourada ou mágica, a Excalibur surge instantaneamente em nossa
mente. A "Espada da Seleção" ou a "Espada da Escolha" são
nomes também atribuídos a Excalibur, devido à sua importância na história como
um todo.
A espada, que, em
conjunto com as habilidades de Arthur, o tornava invencível, só o deixou
vulnerável quando não estava com ele, como ocorreu na Batalha de Camlann. Foi
nesse confronto que Arthur enfrentou seu filho Mordred, e ambos acabaram se
destruindo. Antes de morrer, Arthur deu sua última ordem ao cavaleiro Bedivere:
a espada deveria ser devolvida ao lago, para a Dama do Lago. Após isso, Arthur
faleceu no mundo humano e passou a viver eternamente em Avalon.
A queda de Camelot e
o destino de seu rei, junto com a história da espada, trazem um ar romântico e
melancólico, refletindo as etapas da vida, não apenas de um rei, mas também de
um cavaleiro naqueles tempos.
O universo arturiano
cresceu enormemente ao longo dos séculos, passando de contos locais a lendas
mundiais. A expansão dessas histórias teve início com Godofredo de Monmouth
(Geoffrey de Monmouth) e chegou à França pelas mãos de autores como Chrétien de
Troyes, Maria de França e Thomas Malory.
Chrétien de Troyes
explorou a vida íntima de Arthur, abordando seu relacionamento com a esposa
Guinevere (Genebra) e o triângulo amoroso com o cavaleiro Lancelot, além de
introduzir a trama do Santo Graal. Maria de França contribuiu com o
desenvolvimento do romance entre Tristão e Isolda.
Thomas Malory, o
último e mais célebre autor do Ciclo Arturiano, deu forma definitiva às lendas,
trazendo o fim da prosperidade de Camelot. Ele narrou o declínio dos cavaleiros
da Távola Redonda, a morte da rainha Guinevere, o destino final de Lancelot e,
por fim, a morte do Rei Arthur, que simboliza o término da grandiosidade de
Camelot.
Embora muito do que conhecemos sobre Arthur seja fruto de acréscimos posteriores, acredito que a base histórica e real ainda permanece.
P.S.: Emocionei-me
bastante ao escrever este artigo, pois este homem, em quem acredito
profundamente, é um dos meus elos com o meu “eu” de infância, com sonhos não
realizados e com um ideal de força e bondade. Tendo Nosso Senhor Jesus Cristo
como norte, aquele “N” no alto do mapa, sinto-me inspirado por sua história.
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